Bem-vindo a uma paixão!

Você está diante do primeiro e único blog sobre a
História de Porto Walter, pensado e organizado por um historiador portuwaltense.
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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Irmão José da Cruz

Quem em Porto Walter nunca ouviu falar em Irmão José?

Ele passou por aqui em 1969. Fez milagres, “celebrou” missas, batizou, curou, plantou uma cruz enorme de madeira ao lado da Escola Borges de Aquino e partiu.

Alguns ainda aguardam a sua volta, mas lamento informar que não mais voltará à Porto Walter pois está sepultado em Vila Alterosa no Rio Içá, afluente do Amazonas.


A foto 1980 de Wolf Grauer. Irmão José da Cruz está entre os índios Ticuna.

Vejamos o que foi publicado no site http://www.karipuna.blogspot.com/ sobre Irmão José:

“No princípio da década de 70, chegou à selva peruana um pregador brasileiro chamado José Francisco da Cruz. Durante três anos percorreu mais de 500 cidades, aldeias, povoados, pregando a devoção à cruz, como meio de salvar-se do castigo iminente de Deus.

Desencadeou uma mobilização religiosa, em todos os lugares que visitou. Plantou grandes cruzes de madeira nas aldeias e deixou nomeadas pessoas para coordenar o culto; logo regressou ao Brasil.
Desde então muitos perderam o entusiasmo apesar de guardarem simpatia ao movimento.

Entretanto um reduzido número de seguidores vieram formando uma igreja que se chama Cruzada Católica Apostólica Evangélica do Peru, a base de elementos tomados do catolicismo, do protestantismo e das religiões autóctones.(...)

Algumas regiões do Brasil são conhecidas pela grande quantidade de profetas e movimentos messiânicos que foram surgindo ao longo de sua história. José Nogueira se formou nesse ambiente.

Nasceu às 11 da noite de 3 de setembro de 1913 em Cristina, no sul do estado de Minas Gerais, a milhares de quilômetros, portanto, dos rios e florestas do Peru e fora da bacia amazônica.
Sua mãe no sexto mês de sua gravidez, adoeceu e estava a ponto de morrer. Um de seus tios a fez prometer perante o Sagrado Coração de Jesus que, se fosse curada, o filho seria servo de Deus. O menino nasceu e foi batizado pelo Padre José Augusto Leite. (...)

Cresceu, e ainda jovem levantou uma capela a que deu o nome de Sagrada Família José e Maria. Se casou e foi pai de sete filhos. Depois de alguns anos se enfermou de hanseníase e queriam interná-lo em um leprosário, mas fugiu para um lugar afastado levando uma Bíblia. Prometeu que, se fosse curado, semearia cruzes por onde passasse e trabalharia pelo bem dos que o quisessem seguir. Segundo algumas versões, o irmão José teve importantes revelações de Deus em 1934, 1951 e 1962.

Em 1944 teve três revelações. Na primeira viu uma grande cruz iluminada. Na segunda uma cruz pequena de cor verde e amarela. Em 13 de setembro debaixo de uma árvore lhe apareceu o Sagrado Coração de Jesus em forma de um homem com um manto vermelho, lhe mostrou uma bíblia grande, viu uma cruz grande de cor marrom e na mão uma pequena da mesma cor. Jesus lhe ordenou ir a pregar para as pessoas de toda parte.

Tomou o nome religioso de José Francisco da Cruz, missionário do Sagrado Coração de Jesus, apóstolo dos últimos tempos. Percorreu Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, difundindo sua mensagem de salvação. Em sua peregrinação foi expulso da Colômbia em 1969.

Entrou no Peru e percorreu o Huallaga, Ucayali, Marañón e Amazonas. Se vestia de hábito franciscano e para a missa do amanhecer de branco.
Pregava a palavra de Deus, curava aos doentes com orações, dava receitas de farmácia e organizava o pessoal de cada comunidade para levantar uma cruz grande feita da árvore Palo Sangre, deixando uma junta diretiva para o culto e um estatuto para reger seu comportamento.

No final de novembro de 1971 chegou a Iquitos, e plantou a cruz em Morona Cocha a 3 de dezembro.
Ao regressar ao Brasil em 1972 o fundador formou um povoado, Vila Santa, que chegou a ser a sede de sua Igreja. Está localizado no rio Içá, afluente do rio Putumayo. É o centro de seu projeto para o desenvolvimento dos povoados da região quanto à produção agropecuária, a saúde e a educação. Como projeto especial estão dedicados à evangelização e desenvolvimento material dos indígenas tikuna.

Durante a vida do irmão José, no Brasil, a maioria dos diretores que incentivaram a pregação da Igreja Cruzada eram comerciantes ou patrões que estavam perdendo sua influência política e econômica devido a conflitos com a FUNAI, os comandos militares e a Igreja. Não questionava a situação de dependência dos indígenas e caboclos com relação aos patrões, mas sim os subordinava ainda mais, entregando-os aos patrões que chegavam mesmo a ser diretores, exercendo uma dupla liderança, religiosa e econômica.

O sucessor, escolhido pelo próprio irmão José antes de sua morte que aconteceu a 23 de junho de 1982, é Walter Neves, descendente de Omaguas (chamados Kambevas no Brasil) por parte de seu pai. Seu irmão é casado com uma Tikuna. Neves reorganizou a hierarquia e deu mais postos a indígenas. Vários dos ex-dirigentes se retiraram ou estão na oposição. Esta mudança também significou uma maior independência frente aos patrões e comerciantes.Walter Neves visitou o Peru em fevereiro de 1990 para animar aos irmãos na reafirmação de suas crenças. (...) No Brasil são uns 20 mil membros, a metade tikunas e a metade brancos, e no Peru uns 4 mil. Na cidade de Iquitos têm 3 templos com cerca de 150 membros.

No começo de sua visita ao Peru, em Pucallpa, o irmão José Francisco não fez muito impacto na população, mas à medida que ia descendo pelos rios, corria a notícia de que fazia milagres e o pessoal acudia em grande número e com entusiasmo e devoção. Falava em português e muitos mal lhe entendiam, mas lhe presenteavam galinhas, mandioca e outros alimentos que costumava utilizar para alimentar a multidão. O acompanhavam intérpretes, ajudantes e cozinheiras. Apesar do fervor religioso, alguns dos ajudantes se aproveitavam da situação e vendiam parte das oferendas populares.

A opinião sobre a personalidade do irmão José varia desde os que acreditam que é um santo até os que pensam que é um alienado mental. Muitos asseguram que era um missionário ou enviado de Deus, mas as pessoas de condição mais humilde, camponeses de ascendência indígena, diziam que era Jesus Cristo que havia voltado para anunciar o fim do mundo. Ele afirmava não ser Deus, mas as pessoas acreditavam que só estava tratando de humilhar-se.

Os não-crentes não notavam nenhum comportamento milagroso, mas os outros contavam e recontavam as façanhas do irmão. Segundo os testemunhos crentes, caminhava sobre o barro sem se afundar e fez o milagre da multiplicação dos frangos e da farinha para dar de comer à multidão; sua mão tinha ficado encolhida pela lepra, mas as pessoas diziam que tinha em seu corpo as feridas de Jesus Cristo.(...)

A maioria dos membros das Cruzadas são descendentes de diversos grupos indígenas da selva, que perderam sua identidade étnica específica e Cocamas, cuja língua é da família Tupi-Guarani; analfabetos ou pessoas que não passaram do terceiro ano de educação primária; agricultores, desocupados, chaucheros (peões do porto), vendedores ambulantes e do mercado, operários eventuais e domésticas pobres.
Quase todos vivem marginalizados da sociedade nacional econômica, social e culturalmente.”

Fonte: Regan, Jaime. “Hacia la Tierra sin Mal – La Religión del Pueblo en la Amazonía”. Iquitos, 1993, CETA – Centro de Estudios Teológicos de La Amazonía. 484 p. Páginas 337 a 344. Imagem: ISA - Ticunas

segunda-feira, 23 de novembro de 2009


Quatro Colinas

No pequeno antiquário dos meus sonhos

Resta-me a recordação, quase presente

De quatro colinas numa curva do rio

De suas tardes

De suas alvoradas

De suas despedidas

Quatro colinas o mesmo assunto

Os mesmos passos

E o mesmo câncer, social e

No entanto mais humano.

Quatro colinas numa curva do rio

Os olhos cansados dos que te carregam

Te viam enorme

E da torre da igreja, dez anos após

Um pedaço do rio

Um pedaço de céu

Demarcando a floresta cada vez mais longe

Quatro colinas do que já se foram

Quatro colinas dos que partirão

Quatro colinas no passado

De passatempo e de passavida

Como depõem os cabelos dos meus avós

Tão verdadeiros, tão naturais

Quatro Colinas, não importa.

O futuro de espera há mais de 100 anos.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Ainda sobre São Francisco... mas em Porto Walter

Ontem este blog se reportou ao Dia de São Francisco de Assis e como eu tivesse manifestado uma dúvida quanto ao significado da caveira aos pés de algumas esculturas em que é retratado, recebi hoje uma boa explicação.

É meu bom amigo Padre Jorge, que em férias pela Alemanha, sua terra natal, não esquece os amigos e é um leitor fiel.

Assim me explicou:

A caveira - no meu entender - significa Adão, o primeiro homem - ou mesmo a criatura perdida que precisa de salvação, para a qual o nosso Santo pelo seu exemplo de abnegação diretamente contribui.

Em geral se encontra debaixo dos pés de Jesus na cruz cujo sangue pinga e salva Adão o representante da humanidade inteira.

Bom descanso, meu amigo!

Como que para não perder a oportunidade, lembrei de uma história interessante sobre a imagem do Francisco de Porto Walter:

Pode até não ser verdade, mas quem se importa? Literatura é literatura, e por isso mesmo não precisa ser verdade. Pelo sim pelo não, prometo investigar sua veracidade ou invencionice.

Pois bem: Contam que o Zé Lopes espalhou a notícia (ou, melhor dizendo, o fuxico), que o Bianor teria ameaçado quebrar São Francisco no cacete caso os católicos naquele certo ano, insistissem em levá-lo para a capela próxima à sua casa.

Era o costume desde muitos anos. Pelo fim de setembro, invariavelmente, o padre, os paroquianos, os membros do Apostolado da Oração, da Cruzada Missionária, do ATO (Amizade, Trabalho e Oração) e do Grupo de Jovens, organizavam uma pequena procissão para transportar o Santo da igreja até a pequena capela.

Ali ficava até o dia 4, último dia do seu novenário, onde igual romaria se arrumava para devolvê-lo à igreja.

A capela era pequena mesmo. Até hoje é o meu parâmetro para diferenciar igreja de capela. Para mim, igreja é onde o fiel pode entrar e em capela só entra o santo.

Findo o novenário, no restante do ano, a capelinha ficava abandonada a um canto do caminho do “centro” que também levava ao Maloca, aos roçados e aos piques de caça.

Bianor era recém convertido a uma igreja evangélica que sob olhares de desconfiança se arranjava por ali. Não era santo, mas...

Acontece que a noticia correu no dia seguinte à procissão de abertura. Avalie o tamanho do desmantelo!

Rapidamente os homens mais fiéis e destemidos organizaram a Primeira Cruzada portuwaltense contra a violação (no caso o esfarelamento) de São Francisco. Não havia tempo a perder.

Para o tudo ou nada e até para o que desse e viesse, armados de terçados, porretes e calculo que até algum bacamarte pelo meio, partiram em direção ao “centro”.

Entre quinze a vinte homens, atravessaram a ponte do Raimundo Inácio, passaram pelo Seminário, pelo Raimundo do Deodoro, passaram a ponte do Igarapezinho, pelo Deodoro, pela boca do caminho que vai para o Pedro Chico, e subiram a ladeira do Bianor.

Pelo Bianor, passaram falando mais alto, quase gritando, para que ouvisse, visse e temesse. Para que tivesse a noção do imprensado em que estava se metendo. Bianor, se estava em casa, não se viu.

E, como talvez a história fosse invenção maldosa, São Francisco estava intacto, silencioso e contrito dentro de sua capela.

Tendo encontrado o santo em paz, e como todos estivessem armados de terçados, resolveram aproveitar para limpar a área em volta da capela.

E o Bianor? Não era santo, mas...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Nas cabeceiras do Cruzeiro do Vale

Estive em Mororó

Por 37 anos contemplei a foz do Riozinho Cruzeiro do Vale em Porto Walter com uma grande curiosidade. Curiosidade motivada pelas lembranças do meu pai ainda garoto na década de 50 numa colocação chamada Malassombro. Sempre falou dos amigos índios (cabôcos no dizer dele). Nomes como Seu Napoleão Arara, Dona Judite, Vitorino, Crispin, Seu Genário, Rio Nilo, Rio Branco, e outros, fazem parte da sua memória. Talvez por essa memória dele, eu desde muito planejasse uma viagem ao Riozinho Cruzeiro do Vale ou Humaitá.

Nunca o tinha penetrado além de umas poucas voltas. Até que surgiu uma oportunidade nas eleições de 2008. Éramos cinco (quatro homens e uma mulher), com a missão de sobreviver por cinco dias numa localidade conhecida como Mororó.

No dia 2 de outubro cheguei ao TRE ainda de madrugada para chegar ao aeroporto às nove horas para embarcar às 11 num “Black Hawk” (helicóptero UH-60) da Força Aérea Brasileira.

Embarcamos para a missão chamada “Prainha-Mororó” conforme pude bisbilhotar no plano de vôo deles. A primeira no Rio Juruá-Mirim no município de Cruzeiro do Sul e a segunda no Rio Cruzeiro do Vale em Porto Walter. Pousamos em Prainha onde ficou a equipe de lá, (juntamente com meu saco de alimentos) e partimos em direção a Mororó.

Atingimos o Cruzeiro do Vale, mas não encontramos tal lugar. Por duas vezes os camaradas da Aeronáutica pousaram buscando informações com moradores na tentativa de localizar a comunidade. Como não lograram êxito, buscaram no GPS a localidade mais próxima e assim chegamos a Thaumaturgo.

Na pista de Thaumaturgo (é apenas a pista mesmo, sem a menor estrutura que um aeroporto possa oferecer), só insatisfação por parte dos mesários e policiais que aguardavam o deslocamento às suas comunidades. Educadamente o oficial comandante da aeronave (Ten Martins) nos colocou a par da situação nos informando que para salvar o dia faria o deslocamento das equipes de Caipora e São João retornando em 40 minutos. Assim, pelo tempo exato, estava de volta. Embarcamos de volta a Cruzeiro do Sul. Lasquei quatro fotos de Thaumaturgo, mais outras de Porto Walter e viemos dormir em casa.

Sexta-feira, dia 3, com novas e precisas coordenadas (desta vez fornecidas pelo IBAMA) partimos num vôo direto até uma clareira. Era Mororó.

Ali o Cruzeiro do Vale tem uma largura média de 4 metros e 50 centímetros de profundidade. Mororó é uma propriedade particular (um campo de gado) situada na margem direita, onde a prefeitura construiu uma escola com duas salas. Está a meio caminho entre os dois principais afluentes (Nilo e Rio Branco), próximo às nascentes. Mororó abriga duas seções eleitorais das quatro que o município de Porto Walter tem fora da sede (as outras duas ficam em Reforma, no Juruá). Ali um prefeito ou vereador poderia ganhar ou perder uma eleição. Todo o cuidado seria pouco.

Apenas a escola e duas casas, uma delas pertence à professora e a outra é do proprietário do campo de gado.

Para alguém acostumado à vida na cidade, aquele era um lugar perigoso, melancólico, onde o tédio e a depressão poderiam acabrunhar o melhor dos comediantes. Para não vacilar, rapidamente arrumamos uma tarrafa, um guia, uma canoa e em menos de 40 minutos da chegada já estávamos em plena pescaria. Aquele pequeno rio nos salvaria durante dois dias. Não eram apenas peixes que procurávamos, era principalmente, a tentativa de ocupar o tempo. Jantamos peixe, claro.

No sábado a pescaria foi mais organizada. Compramos gasolina, arrumamos uma canoa maior e fomos em busca de um remanso rio acima numa colocação chamada Boa Vista. A habilidade do motorista e a falta de água impressionam. Fora o medo das arraias, é uma sensação indescritível, saltar na água e arrastar uma canoa, correr no meio de um rio quase seco ou atravessá-lo quase de um salto único. Os peixes não aprovaram muito nossa diversão, mas as pessoas que jantaram na enorme mesa do Osvaldo aprovaram.

Aos poucos fui encontrando parentes e conhecidos do meu pai. Tenho certas características e traços familiares que não me deixam passar despercebido. Gosto de uma boa conversa, de ouvir histórias e gosto de recontá-las.

Lá nos altos rios, fora da sua segurança, do seu habitat, você é o alvo. Inicialmente as pessoas sondam você, tiram sua medida, querem descobrir se você tem preconceitos e só depois, de ter segurança é que se deixam ver um pouco. Tenho facilidade com pessoas dos seringais. Falam pouco, são detalhistas, sagazes e bastante hospitaleiras. Pessoas simples e trabalhadoras que demonstram certo desapego ao dinheiro e à riqueza material. Dignas e educadas.

O sábado terminou com uma feliz novidade: a justiça eleitoral fizera chegar ainda no sábado até aquelas alturas do rio, vindo de Porto Walter, um gerador de energia para nosso conforto. Contratei de graça Bon Jovi e Renato Russo.

O domingo amanheceu com uma grande expectativa e ansiedade para todos. Amanheci mal humorado. Era a quarta eleição consecutiva que não votava, que para garantir o direito dos outros abria mão do meu próprio direito. São algumas das penas que os militares devem pagar por terem assassinado Jesus Cristo, Tiradentes, Felipe do Santos, Frei Caneca, Plácido de Castro, Che Guevara, Salvador Alende, Wladimir Herzog e terem dizimado uma cidade inteira – Canudos no sertão da Bahia (leia ou releia Os Sertões). Novamente me questionei sobre a importância de estar ali. Sempre acontece isso, e é bom que aconteça, porque consigo me isentar de paixões e aplicar a lei.

Finda a votação e divulgado o resultado daquelas seções, a vida foi voltando ao normal, com os eleitores partindo de volta para casa, (alguns enfrentariam 5 horas de caminhada pela mata, ou horas de arrastamento de canoas rio acima ou rio abaixo). E a apuração das outras urnas? Osvaldo tinha notícias.

Osvaldo não conheceu Ulisses Guimarães, mas é MDB doente. Por ser o mais arranjado, tinha um rádio, que só ele conseguia ouvir, e certamente deveria estar com as pilhas trocadas, à la Gamileira (a história do jogo entre Flamengo e aquele outro time em que o Flamengo quase perdeu um título porque as pilhas do rádio estavam ao contrário), pois em Rodrigues Alves o Sebastião Correia era o vencedor e em Porto Walter, para a alegria quase geral, Wanderlei Sales não perdia mais. Ah, radiozinho ruim!

Pela manhã, (parece que ele arrumou as pilhas do rádio) a verdade foi restabelecida. Burica aparecia como vencedor em Rodrigues Alves, e o Neuzari era declarado vencedor em Porto Walter. O coitado do Osvaldo era a figura da decepção.


O que mudaria para eles? Nada, continuariam sendo apenas votos, números, e nada mais, sem vez nem voz.
Aproveitei a frustração deles para contar uma historinha de um amigo meu que chateado com a patifaria da politicagem, foi parar em Marte, e chegando lá se deparou com o “planeta vermelho”(será que o PT veio de Marte?) tomado por intensa campanha eleitoral. Admirado, abordou um cabo aleitoral (até em Marte? Pois é, praga dá em todo planeta) querendo saber quais eram os partidos envolvidos na disputa, ao que foi informado com naturalidade que eram os mesmos de toda a galáxia, de todos os planetas.

Como ele não gosta muito de política, naturalmente ficou confuso, mas o cabo gentilmente esclareceu: Aqui, como um todo o universo, a disputa é apenas entre dois partidos, o PQEC contra o PQQC. Ficou ainda pior, mas o cabo traduziu: PQEC é o Partido dos Que Estão Comendo, e o PQQC é o Partido dos Que Querem Comer. Deram-me certa razão.

E como que para lavar a alma, uma chuva de oito horas. E como que para minar os nossos corações pela saudade de casa, os sapos do mundo inteiro cercaram a escola “São José” e iniciaram seu concerto agourento de uma nota só – Bú, bú, bú, bú...

Nosso resgate se deu pelas 10:00hs da terça-feira. Já dentro da aeronave, pela janela, contemplei pela última vez a escola São José, na Comunidade Mororó, no Rio Cruzeiro do Vale, município de Porto Walter. Onde estive por cinco dias sem ter a certeza de que valeu a pena.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Quatro Colinas

Quatro Colinas é o título do livro lançado na cidade de Cruzeiro do Sul em 2006. Impresso pela Bagaço Editora (de Recife), é o livro que tem Porto Walter em cada verso, em cada conto, ou (como prefiro) causo. Foi lançado em Porto Walter no Salão Paroquial no dia 09 de dezembro do mesmo ano. Transcrevo o trecho de abertura por entender que reflete bem o propósito de escrevê-lo apesar das dificuldades.

Apresentação

“A alma é divina e a obra é imperfeita.”

F. Pessoa

Vezes sem conta, desisti de trazer à luz minhas impressões do crepúsculo e do alvorecer. Como uma necessidade, aqui estou e aqui estamos. De nada valeram as esquivas e os atrasos.


Para quem cresceu no interior, longe da eletricidade e de seus artefatos, olhando as estrelas, o ciclo das águas, o ciclo dos homens, dos sonhos... os motivos são imensos. Faltam-nos muitas vezes (quase sempre), inspiração e coragem.


O lugarzinho formado por quatro pequenas colinas foi meu primeiro motivo. Tão simples, tão enleado, tão natural, tão próximo, tão distante, deu-me a inspiração. Minhas revoltas, sonhos, erros e imaturidade, ofertaram-me coragem, aos solavancos, sem avisos, sem reflexões.


As coisas que conto foram divididas em duas partes: A primeira chamo de poemas, por não encontrar um termo menor, muito mais exaltação que responsável lucidez, são os versos que sobreviveram à minha insegurança e crítica. Em cada um deles se encerra uma batalha particular. A segunda, escrita sob espécie de cegueira, pedaços de muitas coisas, fala de um lugar fantástico, que retrocede na memória, que caminha para trás - Quatro Colinas. Ausente dos mapas e dos livros, ela de fato existe, mas poucos a conhecem e provavelmente morrerá comigo.

As folhas aqui arrumadas, a custo arrancadas da escuridão do medo e lançadas aos ventos, são histórias herdadas do meu pai, meus avós e meus sonhos. Poucas são minhas. Elas tentam expressar sentimentos, já experimentados por outros e silenciados pela ordem ferrenha e absurda do conformismo e da sobrevivência.


Há alguns anos, tento ignorar os meus arremedos escritos, brotados no dia-a-dia. Arrumados assim, feito brochura, dividi-los-ei com meus amigos. Hoje, talvez encontrem eco. Preventivamente, não cultivo grandes esperanças de valor artístico e literário. Partirão assim mesmo, pobres e sem esperanças.


Os desavisados tentarão definir o tipo, o estilo e a influência destes meus arremedos. Eles não possuem estilo, não possuem vergonha. Talvez falem, mesmo sem querer, de revoluções e de amor (dificilmente).


Talvez sejam ácidos, exaltados ou inexpressivos, como devem ser os poemas feitos para as mães, para os filhos e os grandes sentimentos. Se é para sorrir de alegria e de emoção, se é para ficar lembrando a amada que nem tens, minhas histórias e poemas não se prestam à leitura, serão indigestos e intragáveis. Agora, se tens uma revolta, uma luta e uma saudade, mesmo no mais recôndito da alma, nos tornaremos confidentes. Quatro Colinas.

Fotos do lançamento:


segunda-feira, 16 de março de 2009

Novenário de Porto Walter

Em 1930 já era festejado em Porto Walter (Humaytá) o novenário de Nossa Senhora da Imaculada Conceição.
De três anos para cá, tenho visitado o município durante a festa e tenho observado um aumento significativo no número de visitantes.
O novenário é ao lado do aniversário do município (em Junho) o maior evento social do município de Porto Walter.
Abaixo, fotos do evento:
Em 2008, no ponto mais alto da roda gigante, a curva do rio, a Esc. Borges de Aquino, os barcos amarrados no barranco e os botequins.

Com suas "luzes"(velas), o povo sabe para onde caminha.

Eis os mistérios da fé...

Quase do mesmo peso da Santa, o "boca-de-ferro" com sua bateria é transportado por um penitente enquanto o Professor Sebastião com sua voz de padre comanda a procissão e segura quase sozinho a Ladainha: Dos anjos vos sois a Rainha...