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sábado, 12 de fevereiro de 2011

Deusdedite Barahúna e a História do Acre


Ontem, ali pelo centro de Cruzeiro do Sul, "topei" com o bom amigo Deusdedite Barahúna. 
Deusdedite é na minha memória o "homem da luz", pois foi ele que em 1978 à serviço da Eletroacre, instalou um motor de luz numa "casinha de meia água" um pouco acima da Cooperativa e fez nascer em Porto Walter o "clarão" da luz elétrica. Para homenageá-lo, transcrevo uma entrevista sua à Juracy Xangai do Jornal Página 20 de Rio Branco.
  
Um pouco da memória viva do Acre
Morador de Porto Walter relembra o nome de Guiomard Santos, amado pelo povo e odiado pela oposição

Juracy Xangai

Um pouco da história do Acre está guardado aqui e ali em memórias vivas como a do contador Deusdidete Barahuna Bezerra, 66 anos, pai de seis filhos, morador de Porto Walter. À sua maneira, ele lutou pela elevação do Território do Acre a Estado defendida por seu ídolo pessoal, o coronel José Guiomard Santos, do Partido Social Democrático (PSD).
As lutas pela emancipação do Território do Acre começaram logo depois da Revolução Acreana e foram marcadas por revoltas populares, tiroteios e mortes. Foi na década de 50 que essa luta se condensou com José Guiomard na liderança dos Autonomistas que defendiam a elevação e o general Oscar Passos à frente dos Unionistas, que queriam a permanência do Território porque temiam que o Estado não se sustentasse sem ajuda do governo federal.
Filho do delegado Chateaubriand Chapo Xavier, nascido no Rio Grande do Norte e que atuava na localidade de Cruzeiro do Vale, hoje segundo distrito da cidade de Porto Walter, no Alto Juruá, Deusdidete teve seu primeiro contato com o então governador Guiomard Santos, através de uma carta na qual ele perguntava a seu pai se ele queria ser transferido para trabalhar em Brasiléia, Xapuri ou Cruzeiro do Sul.
“Quando cheguei em casa vi minha mãe Conceição chorando. Perguntei o que estava acontecendo e me disseram que o pai deveria se transferir para outra cidade. Guiomard respeitava muito seus funcionários. Ela disse que não queria ir para Brasiléia nem Xapuri porque tinham três filhos enterrados lá. Fomos para Cruzeiro do Sul”. Chapo e Conceição tiveram 13 filhos, cinco morreram na infância.
O pai desceu antes para conseguir lugar onde receber a família e quando estava tudo pronto mandou aviso para a mudança. “Carregamos as canoas com tudo o que tínhamos, redes, mosquiteiros, cama, louça de cozinha e uma máquina de costura, e descemos três dias remando até chegar em Cruzeiro. Naquele tempo as coisas eram mais difíceis. Deixei meus amigos em Porto Walter, mas fiquei feliz porque em Cruzeiro a gente podia estudar e tinha mais trabalho.”
Durante muito tempo, Deusdidete só ouvia o pai e os amigos falando de sua admiração por Guiomard Santos, pelas obras que fazia no Acre. “Tinha dez anos e era o mais sapeca dos meus irmãos. Fui, escondido, ver o primeiro comício de minha vida na praça em frente à casa do Ruela, atrás da catedral de Cruzeiro. Achei muito bonito.”
Aos 18 anos, teve de ser transportado às pressas para Rio Branco, onde foi operado de apendicite e enquanto se recuperava foi assistir a um comício. “Quando cheguei lá, um homem de calça, paletó e camisa branca, com gravata e sapato preto, fazia um discurso firme e forte. Era o Guiomard Santos, com dona Lydia Hammes sempre ao lado dele”, lembra.
Fazendo uma análise sobre o passado político do Acre, ele foi taxativo: “Para mim, no passado do Acre teve três políticos: o Guiomard Santos, Oscar Passos e Adalberto Sena. Se os políticos de hoje fossem como eles o Brasil seria muito melhor”. Mas não generaliza: “Mas toda regra tem exceção, pois ainda existe muita gente que merece respeito, são pessoas dignas do mandato que exercem, mas a verdade é que a maioria não vale nada mesmo.”
Empolgada, a multidão ouvia em silêncio o discurso de Guiomard. “Ele garantiu que se fosse eleito deputado federal iria apresentar um projeto de lei e defender a elevação do Território a Estado. O povo batia palma e gritava de alegria. Guiomard ganhou meu voto e minha simpatia. Nunca mais deixei de fazer campanha para ele.”
Nasce um ídolo - Mais que um líder, Guiomard que havia se esforçado como nenhum outro para trazer desenvolvimento ao Acre, que naquela época era totalmente dependente do dinheiro da União e dos produtos que vinham de fora. A simpatia do povo por suas ações o transformou num ídolo adorado pelas multidões e temido pelos adversários.
Durante seu governo, que aconteceu de 1946 a 1950, ele realizou a primeira reforma agrária da Amazônia, fundando as primeiras colônias agrícolas da Custódio Freire e Apolônio Sales. Trouxe sementes, mudas frutíferas, bois, porcos, galinhas e até abelhas de avião e criou a Estação Experimental, onde foram feitos os primeiros testes para que o Acre começasse a produzir seu próprio alimento.
Construiu o Hospital das Clínicas, maternidade, a Escola Normal Lourenço Filho, colônia penal, serrarias, estação de rádio, telégrafo. Comprou caminhões, lanchas e máquinas pesadas e até um avião Douglas C-47, que permitiu ao Correio Aéreo Nacional atender a população do interior.
As legionárias
A admiração de seus simpatizantes era tanta que quando ele chegava a Cruzeiro do Sul era recepcionado pela militância, que lotava o aeroporto. À frente dela, as legionárias, com suas saias azuis e blusas brancas, faziam as honras do Juruá. Ele, sempre vestido de branco, não se separava jamais da esposa Lydia e de seus óculos escuros da Ray Ban, em Cruzeiro hospedava-se na casa de Margarida Pedreira ou Jamil Jereissati.
Os militantes empolgados entoavam suas marchinha de campanha pelas ruas de Cruzeiro do Sul durante a campanha de Guiomard Santos para deputado federal nos idos de 1950, sendo reeleito para o mesmo cargo em 1958.
Guiomard defendia a candidatura do general Lott para presidente por seu partido o PSD que foi derrotado por Jânio Quadros que renunciou à presidência deixando seu vice João Goulart, o “Jango” em seu lugar.
Durante os 100 dias em que o Brasil viveu sob o regime parlamentarista, Guiomard aproveitou a oportunidade para pedir a ajuda de seu conterrâneo mineiro e amigo pessoal, o então primeiro ministro, Tancredo Neves. Este convenceu o presidente João Goulart que era do PTB, a assinar a lei 4.070 elevando o território do Acre ao status de Estado.
Dia de festa
A notícia da elevação do território em Estado fez com que Rio Branco Vivesse uma festa de três dias, o mesmo em Cruzeiro do Sul. “O céu ficou azulado da fumaça das bombas que explodiam por toda parte, nunca houve no Acre uma festa daquele tamanho. As pessoas não sabiam se choravam ou riam, foi uma felicidade”.
“Eles brigavam, mas na verdade o Oscar Passos também queria a elevação do território, só não dizia abertamente porque isso ia favorecer o Guiomard. Tanto que assim que o Acre foi elevado a Estado ele se candidatou a governador. Achava que era muito forte, seu partido era de elite, não se aliou a ninguém, o José Augusto buscou alianças e apelava para o fato dele ser jovem e acreano, ganhou a eleição. Foi a derrota do Acre”.
Durante essa campanha, Deusdidete, viu Guiomard Santos, pela primeira e única vez falar mal de um adversário, pois seus debates sempre eram feitos com base em propostas de realizações ou posicionamentos políticos. Referindo-se a Oscar Passos de José Augusto declarou: “Aqueles que não queriam a elevação do Acre em Estado hoje se comportam como aves de rapina...”.
Quanto aos fatos da conturbada vida política nacional daquele momento, Deusdidete recorda: “Com dois anos na presidência, Jânio Quadros renunciou porque não agüentou a pressão. O problema é que ele queria governar sozinho, sem Câmara nem Senado. O Exército, liderado pelo Castelo Branco, se revoltou por causa daquela confusão, tomou o governo de Jango, depois mandou o coronel Cerqueira derrubar o José Augusto e tomar o governo.”
Nesse ponto, o economista Lauro Santos, que é neto do Guiomard Santos e participa da conversa com Deusdidete, faz uma revelação curiosa: “Guiomard foi aluno do Castelo Branco na Escola Politécnica do Rio de Janeiro e se tornaram amigos. Quando houve o golpe militar, ele perguntou ao meu avô como era o comportamento do José Augusto. Ele disse que era um jovem muito dinâmico, era oposição, mas honesto, embora fosse da oposição. Isso teria garantido sua segurança por mais quatro meses, quando a ditadura concentrou a caça às bruxas e o depôs do governo”.
Deusdidete complementa: “Quando José Augusto caiu o povo se retrancou, todo mundo tinha medo dos militares. Só restaram dois partidos no Brasil. O PTB virou MDB, que hoje é o PMDB, e o PSD virou Arena, que hoje é o PP. Quem queria continuar na política teve que se acomodar por aí. Foi um tempo difícil, em que todo mundo vivia retrancado, sem poder falar o que pensava porque jornal não publicava e rádio não divulgava nada que os militares não quisessem.”
Por outro lado, ele reconhece que a visão estratégica dos militares em proteger as fronteiras brasileiras através da consolidação das cidades beneficiou o Acre.
“Quando o Exército chegou a Cruzeiro do Sul foi que a coisa melhorou. Colocaram Tota na prefeitura, onde ele ficou por 12 anos, e aí é que a cidade cresceu mesmo.”
Marcha da vitória
Vitória, vitória. Manhã de radiosa luz.
Surgiu na legenda que o laço de união conduz.
Desperta acreano teu voto de compreensão.
Para deputado os candidatos da coligação.
O Acre é minha terra, torrão que Deus me deu.
Meu voto é dura guerra aos inimigos teus.
As matas com seus mantos descubra sobre nós.
Foi Deus que nos deu, apraz de nossa voz”.

Marcha da rivalidade
Desculpe a franqueza, petebistas, fracasso pra vocês é coisa certa.
Com a chegada desse tal José Augusto.
Foi a derrota do povo de nossa terra.

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