No dia 11 de novembro estava em Porto Walter. Como sempre, fui a trabalho. Mesmo assim, arrumei tempo para alimentar a alma.
Arrumei uma Pop 100 e me arrisquei pelas ruas da cidade. Era uma moto estranha, que dava um sopapo nas trocas de marchas. Depois eu descobri por que.
Porto Walter não tem muitas ruas, mas as poucas que tem estão bem cuidadas, bem diferentes de oito anos atrás quando a lama era o caminho.
Por volta das 2:00h da tarde, estava no Maloca. O pequeno igarapé apesar de escorrer entre fazendas, desprovido de mata ciliar, ainda teima em correr e pelo menos no porto do Chico Branco onde a mata é intacta oferece um bom local para aliviar o calor.
Fosse um especialista diria: O porto do Chico Branco apresenta um microclima com temperaturas até tantos graus abaixo da média.
Aliviado o calor, deveria retornar dali, onde termina por assim dizer a área urbana da cidade, mas o dia estava lindo, um sol forte, com poucas nuvens e o ramal bem conservado era um convite para uma aventura.
Minha irmã caçula, que estava comigo (coincidentemente ali também a trabalho) aceitou o desafio e lá fomos nós, fotografar e tentar explorar a Gleba Minas.
Cruzeiro do Sul é a terra das grandes ladeiras, Thaumaturgo também, mas as ladeiras da Gleba Minas são incomparáveis.
O ramal é novo. Parte do leste para oeste e a medida que se afasta da cidade fica mais acidentado e deserto.
Por ser novo, o torna mais perigoso pois as raízes expostas podem facilmente furar um pneu.
A moto apresentava um defeito que fazia da aventura uma temeridade. O cabo da vela de ignição a cada dois minutos (ou menos) caía e o motor apagava.
Fomos encontrando serradores, motoqueiros, agricultores, montes de lenha, roçados, depredação.
O defeito na motoneta com as paradas para recolocar o cabo, fez o percurso (que nos meus cálculos não passou de 15 km) parecer maior.
Lá pelas 3:30 ou 4:00h uma bifurcação nos fez parar. Disposto a seguir o caminho que indicasse um maior tráfego, surgiu um caminhão novinho da Associação dos Produtores da Gleba. Reconheci o Zé Dias e o Raimundo do Deodoro. Me indicaram que em cinco minutos, dez no máximo, estaríamos na margem do Igarapé Besouro.
O caminhão seguiu e o ramal ficou um silêncio só, comecei a pensar com mais responsabilidade. Mesmo assim ainda percorremos uns dois quilômetros. Não tinha conferido a quantidade de gasolina, não tinha marcado a quilometragem, e se um pneu estourasse, e se o problema da ignição se agravasse... Resolvi voltar.
Paramos. Feito o Macgyver, saquei meu canivete e com um pedaço de madeira resolvi o problema da ignição. Enquanto improvisava a gambiarra ouvia papagaios, tucanos, periquitos e as macucaus.
A parada para serviço mecânico me fez refletir sobre outro problema, o dos solavancos nas trocas de marchas. Claro, era isso, só poderia ser...! Pop 100, diferente de Dream, C100 Biz e Biz 125 e outras motonetas, tem embreagem, e por barbeiragem tinha ignorado.
A volta foi um espetáculo, uma maciez que fazia gosto.
Ano que vem, no verão, se tudo correr como penso, o Besouro que me aguarde.